segunda-feira, 30 de julho de 2012

Antigamente

Lembro-me nostalgicamente do meu cotidiano, todas as segundas eu colocava na mochila junto com os materias escolares os métodos grossos e pesados de violão, depois de tomar o café da manhã, pegava dinheiro pro almoço, colocava nas costas a mochila e o violão, e descia a pé (por opção) no frio agradável, e acolhedoramente saldoso das manhãs de inverno. Estudava atenciosamente, cumprindo todos os deveres mandados, e ainda lia na biblioteca nos intervalos. Quando batia o sinal pra ir embora, eu ficava estudando mentalmente em qual lugar almoçar, e sempre acabava no 'Café de Paris' - o nome fui eu que batizei, pelo desejo de ter um - comendo sanduíche duplo de atum, ou tortinha de palmito levemente apimentada, e suco de laranja. Ficava la, sentado, mesmo depois de comer, escrevendo, lendo e de vez enquando papeando com a dona do café, e quando deva na hora eu descia até o conservatório, as vezes roendo as unhas por estarem cumpridas demais para tocar violão, - la vai professora repreendendo - ia direto pra sala, deixava la o violão e a mochila, e ia pro banheiro, depois de aliviado voltava pra sala, e me deliciava tocando Bourrée de Bach e outras musicas maravilhosas. Quando a aula acabava ainda era apenas 14 horas, o sol estava meio a pino, a mochila mega pesada, o violão super chato de levar, ajudando a "cortar" os meus ombros, uma loja de blusas nas mãos - graças ao país lindamente tropical que nós temos - o calor quase insuportável, e a subida que tenho pra chegar até minha casa que é horrorosamente medonha (nem tanto), mas sob o sol terrível, a fome, a vontade de ir ao banheiro, e a carga de burro me desanimava muito. A minha solução era ir até uma cabelereira muito amiga e ficar la, até o sol baixar um pouco, conversando loucamente sobre coisas que eu amo e odeio, enfim, chegava em casa quase 16 horas, exausto, para no outro dia acordar as 6 da manhã. Nas terças não tinha nada pra fazer depois da escola, e quando voltava aproveitava o tempo livre para lavar as gaiolas do Fred e da Jose, (ambos mortos ): e depois de um tempo também tinha o aquário do Sr. Peixe pra lavar, quando eu terminava tudo, estudava loucamente 2 horas de violoncelo e violão, e quando chegava a noite eu ia a igreja. Nas quartas eu tinha aula de cello quase 15 horas, então tinha metade da tarde pra fazer alguma coisa, a aula acabava quase 19 horas - também por opção - e me recordo de esperar no vento frio ou na chuva pelos meus pais, eu pensava em tanta coisa nesse meio tempo, era tão bom. Quinta-feira era um pouco mais corrido, e também tinha aula perto das 16, mas era de teoria musical, as 17 horas ia embora, por que as 19 já tinha outra aula, também de teoria, eu fazia aulas de música também na igreja, e neste dia eu chegava as 20 horas em casa. Na sexta-feira eu não me recordo muito bem, só me lembro de ter aula de conjunto perto da 15 horas - nessa aula eu tocava com alunos de piano e sax. No sábado eu não descansava, acordava 7 horas pra ir a aula de coral, que eu amava e quando chegava em casa ficava esperto por que eu ainda tinha mais 4 horas de aula de cello na igreja, chegava em casa tomava banho e ia a igreja. Os sábados eram sempre corridos e cansativos. E no domingo eu tinha apenas a tarde de tempo livre, porque de manhã e a noite eu ia a igreja.
Nos meus topos livre eu estudava, eram, todos os dias 4 horas de estudo, de violão e cello.
Me lembro disso tudo sempre chorando de saudade, era maravilhoso, perfeito, não tenho palavras pra dizer o quanto eu amava essa rotina louca, e sem falar das apresentações de violão, dos ensaios de cello na igreja, e ainda tinha tempo de sair e me divertir com a família, bons tempo.
Mas tudo isso foi tirado de mim, nos últimos 3 meses de 2011, eu perdi tudo, minha saúde, quase a única beleza que eu tinha, minha rotina, metade da minha felicidade, o meu bem estar, quase tudo foi embora. Agora fico impossibilitado de fazer quaisquer coisas que eu fazia antigamente, fico no vazio daqui de casa, sem poder fazer nada, dores e aflições. Mas acima de tudo, eu consigo achar a felicidade, de vez em quando eu a perco, mas logo ela esta de volta.
Mas sei que vou dar a volta por cima de tudo isso, eu e me minha família.

Um comentário:

  1. Não se preocupe Juan, eu tenho certeza que Deus está de olho em você e em sua família, tudo tem um porque, e quando chegar a hora certa, Deus vai te devolver tudo e muito mais. Basta ter fé e muita esperança, Deus sabe o quanto você se esforçava e mesmo adoecido e cansado continua se esforçando. Tenho fé que isso tudo irá passar, e junto com ela virá a felicidade sua e de sua família. Seja forte, e conte comigo sempre que precisar.
    Eu te amo primo.

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